é sempre no meio de um poema que se tem um deserto
Por aqui quase tudo o que fazemos
simboliza uma fatalidade estacionária
Como o verão que talvez nunca tenha acontecido
mas tem-se a certeza de que aconteceu
na maneira perversa &
rúptil com a qual se tem certeza de uma lembrança
Eu não me lembro se Deus se decidiu
por estalar os trovões
em cima dos telhados ou em
nossas clavículas mas
não foi esse o verão
em que nos deixaram apertar a barriguinha
dos peixes-roncadores?
Por aqui quase todas as pessoas que existem são um vasto oceano
Eu sou uma colher de medir grãos
E nunca sei o que trazer de volta
***
a cada 14 dias morre um idioma
eu leio
enquanto você despeja arnica sobre meus machucados
e diz que o cheiro forte da planta
é o primeiro nível da semiótica