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editorial


é o seguinte:
um corpo
é um corpo social
um corpo tem sete chacras
sete chacras
sociais

e a noite
a noite
a noite ocidental obscenamente acesa
sobre o meu país dividido em classes

esta edição faz parte
de um corpo
este corpo habita o mundo
há três anos
um corpo tem sete chacras
este é seu sétimo chacra
o sétimo chacra
se contarmos de baixo
para cima
o sétimo chacra
sahasrara em sânscrito
é a lótus das mil pétalas

é o seguinte:
este chacra
coronário
é a sétima edição
porque apontado pra cima
porque fora do corpo
e dentro do corpo
porque coronário
e a coroação simboliza
o fechamento de um ciclo
o início de um ciclo

esta edição será
coronária

ponhamo-nos em tadásana
e é o seguinte:
o sétimo chacra
o único fora do corpo
o outro
que de fora
forma um corpo
social
é esta sétima edição

camillo josé
o outro
colabora na formação de
um corpo
um corpo social
um corpo tem sete chacras

o equilíbrio é utópico
mas mentalize a chama
de uma vela
ela está entre suas
sobrancelhas
agora perceba

a chama flameja
a cada inspiração
mais oxigênio alimenta
a chama
 
a chama
agora é você

as inquietações
tremulam a chama como
a chama
suas inquietações
perduram
 
a sétima edição,
maninho macaco,
é a sobrevivência dos vagalumes
 
é o seguinte:
no sexto dia,
deus criou o homem
à sua imagem e semelhança
no sétimo dia
deus descansou
de nós?
 
e descansa
deus
de nós?

o número sete é mencionado setenta e sete vezes no velho testamento. sete igrejas. sete estrelas. sete trombetas. sete espíritos de deus. sete trovões. sete cabeças. segundo hipócrates, o número sete, pelas suas virtudes escondidas, mantém no ser todas as coisas. sete cores no arco-íris. sete glândulas endócrinas. sete raios tem o sol. sete pecados capitais. na kabbalah, sete é a soma da santíssima trindade com os quatro elementos da natureza. sete dons do espírito santo. sete notas musicais. o daniel dargains pegou sete matérias na unirio esse semestre. sete dias tem cada ciclo da lua. a sétima

carta do tarot é o carro.

esta é a sétima edição da revista garupa.

eu vejo, íon, e vou fazer-te ver o que é, segundo o meu entendimento. é que esse dom que tu tens de falar sobre homero não é uma arte, como disse ainda agora, mas uma força divina, que te move, tal como a pedra aqui eurípedes chamou de magnésia e que a maior parte das pessoas chama pedra de heracleia. na verdade, esta pedra não só atrai os anéis de ferro como também lhes comunica sua força, de modo que eles podem fazer o que fez a pedra: atrair os outros anéis, de tal modo que é possível ver uma longa cadeia de anéis de ferro ligados uns aos outros. e para todos é dessa pedra que a força deriva. assim, também a musa inspira ela própria e, através destes inspirados, forma-se uma cadeia, experimentando outros o entusiasmo. [...] com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão

nesta edição, inspiramos julya tavares e camillo josé e expiramos cinco videopoemas, um ensaio fotográfico, trinta textos poéticos.

julya, de dentro, participou das reuniões selecionando e preparando os textos recebidos. camillo, via skype, trouxe os poetas que estão na achados no porta luvas e participou da curadoria de poemas junto com os de dentro.
o ímpeto, mais uma vez, foi de mudança. e na outridade, um outro olhar, um outro jeito de tatear os textos, um outro território mapeado, uma nova configuração de comunidade. foi no outro – 
a tentativa de um outro, este chacra coronário tão pouco palpável – que reconhecemos qualquer ideia de
espiritualidade.