SEÇÕES

três prosas

por thássio ferreira


Tetris

Foi um caminho acidentado até aqui, ele pensa. Mais um emaranhado de descaminhos. Como aquele joguinho que ele me mostrou no minigame, antes dos celulares dominarem o mundo, como era mesmo? Peças de formatos recortados caíam do alto da tela e a gente precisava encaixá-las, cada vez mais rápido, e quando as peças encaixadas completavam fileiras horizontais a fileira desaparecia, e a gente ia encaixando aquela porra tentando impedir que se amontoassem até o alto, cada vez mais rápido, mais rápido, era um inferno aquele jogo. Tetris, eu acho. Quando as peças não encaixadas se amontoavam até o topo da tela a gente perdia e tinha que começar de novo. É, foi assim com a gente, ele pensa, ligeiramente animado com a nova metáfora, que julga mais elaborada que a primeira. Nós dois tentando encaixar nossos recortes, nossos ângulos, nossas quinas, tentando aplainar e amontoando um monte de peças até um ponto em que era necessário começar de novo, fingir que limpávamos a tela e que as peças desencaixadas não continuavam lá, em algum lugar: nas mãos subitamente em trégua e cansaço, no fundo das línguas, em vez de na ponta, nas paredes da vesícula biliar dele, que a minha já não tenho. Sei lá.

Ele gosta de usar palavras do seu tempo de engenheiro do exército, como aplainar, no meio dessas divagações que cultiva com esforço quando está com o filho, tentando se conectar a ele, nada engenheiro, nada militar: tentando encaixar sua dureza naquele mundo sensível que até hoje não entende bem como o filho construiu para si.

Percorrem a exposição em silêncio. O filho muito concentrado, atentíssimo a cada fotografia. Ele mergulhado em seu próprio dentro, observando as molduras apenas o suficiente para  estar ali, junto do filho. Participar do mundo daquele homem que ele ama de um jeito incompreensível para si mesmo. O silêncio entre os dois: um misto de trégua e carinho. O cansaço de tantas diferenças amontoadas que eles insistem em tentar conciliar, porque esse amor incompreensível pede sem fim, e cansa muito não conseguir desamar quando o amor é tão complicado. Mas o cansaço não cansa. O amor: maior. E por vezes o silêncio que aplaina mais que as palavras.

–– Pai, tem uma exposição. De fotos. Quer ir comigo?

A coreografia já dançada outras vezes, com variações. Depois das surpresas que impôs ao pai para chocá-lo, ele agora sabe que provavelmente virá a pergunta sobre do que trata a exposição. E sabe também, com muita calma, com a vontade do amor maior que o cansaço do amor, que se a pergunta não vier, como não vem, ele terá a força e a disciplina de lhe dizer, como diz –– com muita calma, com a vontade do amor: o artista se chama Alair Gomes. São fotos que ele fez nos anos setenta e oitenta de rapazes se exercitando na praia de Ipanema. Talvez ele não devesse dizer rapazes, pensa antes mesmo de terminar a frase. Conhece os fantasmas que rondam o pai, aquelas velhas ideias: monstros no armário tocaiando jovens desprotegidos, desvirtuando-os, como há tempos ouviu o pai dizer que fora seu caso, entre acusatório e suplicante que ele admitisse que sim, fora desvirtuado, um jovem inocente, logo ele: menos inocente do que engenheiro. Apressa-se em tentar uma outra forma de dizer, um outro encaixe: aquela época em que a galera começou a malhar, sabe? Tinha uns aparelhos na praia, mais simples que os de hoje, e os caras –– cara é uma palavra menos inocente, menos alarmante –– faziam barra, abdominais em pranchas de madeira. O Alair tirava várias fotos e depois juntava de um jeito que sugere uma história, como se ele narrasse algo com as fotos. Ficaram bem famosas. Os truques. Os gatilhos que ele já conhece: dar nomes aos fantasmas, para que assustem menos o pai, e trazê-los à claridade da fama, essa legitimação quase absoluta dos nossos tempos.

Um pedaço de silêncio. Tentando se encaixar.

–– Eu vou.

Ele hesita um pouco. É sempre difícil saber o quanto dizer. Que os rapazes estão sempre em sunga, ou pelo menos sem camisa. Que as composições, no mais das vezes, sugerem uma tensão sexual criada pelo fotógrafo. O Alair. Mas ele cala. O cansaço. Afinal, o que se espera de fotos na praia? Daquele filho que já tanto disse, gritou, cuspiu tantas palavras. O pai sabe, ele pensa. Ou que tire suas próprias conclusões.

O pai sabe. Não completamente, mas sabe. O que não sabe, pressente, encaixando as palavras, os silêncios, o passado. E vai. Esforçando-se naquele exercício de amor: amoldar suas fronteiras às do filho. Rapazes se exercitando na praia, pois bem. Vamos. Eu vou.

Em silêncio, ele se aproxima do filho, que admira mais demoradamente uma sequência específica de fotos. Não lhe interessa muito, a princípio, aquelas três imagens na moldura, como nenhuma das outras. Interessa-lhe o filho. E reconhece nele pequenos sinais cujo significado já aprendeu, a contragosto. O rapaz passa a língua nos lábios, discretamente: primeiro o de cima, depois o de baixo, sem intervalo. Recolhe a língua. Tem o olhar vidrado mirando as fotografias. Sorri de leve, inclinando a cabeça. Aperta com a mão direita a falange do dedo médio da mão esquerda.

A coreografia já dançada outras vezes, com variações. Antes que sua disciplina de engenheiro, de militar, possa impedi-lo de olhar o que prende a atenção do filho, ele olha, talvez numa esperança eternamente frustrada –– e que ainda assim insiste em subsistir –– de ver o que nem mesmo acredita que verá, e que ali, em meio àquelas fotografias, todas de rapazes, é ainda mais improvável. Talvez uma vontade atávica de entender o filho, quem sabe um dia ele consiga, num lampejo qualquer, compreender: o desejo daquele homem tão carne da sua carne mas tão diferente dele, ali defronte a uma imagem em preto e branco que ele pressente como quem sabe –– ele já sabe há tanto tempo –– do que se trata.

Ele mira a foto: o rosto de Valter mirando o espaço para fora da moldura. Algum ponto atrás de seu ombro esquerdo, parece. O Valter? Sim, ele reconhece, sem nenhuma dúvida: o Valter. E um rapaz ao lado dele, o corpo (teso) em perfil, o rosto em direção oposta, olhando para trás de Valter, para o fundo da foto, quase totalmente de costas, mas ainda reconhecível, ao menos para ele: ele. Ambos de calças e sem camisa, um dia qualquer em Ipanema, saindo do quartel, ele nem lembrava que um dia, mas lembra. Ele. E o filho que olha sua foto, pés descalços na areia, o corpo alongado ao sol, aquele rapaz dos anos setenta ou oitenta preso numa fotografia de quem mesmo, qual a porra do nome desse fotógrafo que o meu filho me trouxe para ver, e o filho novamente passa a língua nos lábios, discretamente, primeiro o de cima, depois o de baixo, enquanto aperta com a mão direita a falange do dedo médio da mão esquerda.

(peças caem muito mais velozes do que ele é capaz sequer de tentar encaixar, até cobrirem toda a tela)


Meditação

Ele sobe as escadas gastas do pequeno prédio no fim da rua com uma calma que não possuía da primeira vez. São três lances até a porta que sempre encontrou aberta, mesmo nas vezes em que veio fora dos horários marcados, para alguma conversa, tirar dúvidas que achava não poderem esperar a próxima aula, ou apenas observar: executivos de calça e camisa, mulheres com a aparência classe-média-rica de quem acha suas angústias (mais ou menos espiritualizadas) o maior sofrimento mental que pode se abater sobre alguém, e alguns rostos tão relaxados que se diria serem professores, e não alunos.

Subo as escadas com calma. Sinto-me calmo; eu pareço calmo? É importante que eu pareça calmo, eu penso, porque senão alguém pode me perguntar o que há e não posso arriscar que uma pergunta assim abale a calma que eu sinto que sinto. Eu sinto. Digo a mim mesmo que as impressões dos outros não deveriam abalar a serenidade que venho conquistando, mas são afinal duas estratégias conjugadas: parecer calmo para que não me perguntem nada e permanecer calmo se algum filhadaputa perguntar. Respiro fundo.

A recepcionista cumprimenta-o distraída e diz-lhe que: pode entrar, a maior parte da turma já está na sala e o professor começará pontualmente. Tudo, exceto ele, parece como sempre: o quadro de cortiça com fotos e chamadas para os próximos retiros, o bebedouro de galão com seu barulho de máquina em funcionamento, a espada de são jorge no vaso, o pequeno sofá com estampa floral perpendicular à mesa da recepcionista, sempre tão caótica. Ela não deve meditar, pensa.

Paula me dá boa tarde quase sem levantar os olhos, emendando com o aviso de que a aula vai começar pontualmente, é melhor eu entrar. Há uma ligeira impaciência na voz dela, mas não deixo que me abale. Percorro o pequeno espaço com o olhar enquanto tiro os sapatos, cada objeto com a mesma cara e na mesma posição da semana passada. Até a bagunça de papéis na mesa dela parece sempre igual. Ela não deve meditar, não é possível que alguém pratique meditação como ensinam aqui e permaneça tão desorganizada. Dirijo-me ao corredor.

–– Não quer deixar a bolsa aqui?
–– Não precisa — ele responde num murmúrio, e aperta a bolsa um pouco mais contra o corpo, sentindo o chão frio nos pés nus enquanto caminha para a sala de meditação.

Digo boa tarde a todos e a ninguém, enquanto cruzo a sala até a parede oposta à porta. É um bom lugar. Sento-me em um dos almofadões encardidos espalhados pelo chão. Quatorze alunos, incluindo eu mesmo. Alguns rostos eu conheço, a maioria não. Há um odor sutil de chulé, deve ser do garoto no canto esquerdo. Hormônios desbalanceados. Ou talvez do cara de meias na mesma parede que eu, um pouco mais perto que o garoto: ele é o único de meias. Se as tirasse talvez o cheiro fosse pior. Fixo o olhar na porta enquanto espero.

Quando o professor entra, todos já estão acomodados. Ele alcança o interruptor e diminui a luz da sala. É um homem alto, em seus cinquenta, de cabelos um pouco desgrenhados e rosto sereno. Bem-vindos, ele diz, e se dirige à cadeira simples de onde comanda as aulas. Senta-se: cruzando as pernas sobre o quadrado escasso da cadeira, joelhos no ar.

Tenho praticado com afinco, seguindo todas as recomendações. Duas vezes ao dia. Em jejum. As costas eretas contra a parede ou a cabeceira da cama, as mãos relaxadas. Pela manhã é mais fácil. À tarde tenho que me programar com cuidado: duas horas sem comer, nem beber café, nem fumar. Sinto que estou mais calmo. Definitivamente mais calmo.

O professor faz um apanhado geral de todas as aulas: as origens da técnica, o mestre, os benefícios, a técnica em si, as evidências científicas de como a meditação atua no corpo.

Ouço atento. Cada aluno segue o curso conforme sua preferência, eu fiz questão de espaçar as aulas para poder praticar em casa. Algumas dei um jeito de assistir duas vezes. Mas sempre há algum detalhe a pegar, e agora, já mais calmo, eu os absorvo melhor.

–– Vamos então à prática? Estão todos confortáveis? Desliguem os celulares e não se preocupem com o tempo. Quando for o momento, eu aviso. Vamos fechar os olhos devagar… começando a acalmar a mente apenas eliminando o estímulo visual… respirando pausadamente, sem entrar no mantra ainda… apenas respirando e desacelerando… respirando… quando cada um estiver pronto pode iniciar o mantra, suavemente...

O mantra vem. Suave, como tem de ser. Eu o repito. E repito e repito. O mantra existe para ser repetido. Se não, seria evocação aberta. Mas o mantra é o mantra e o mantra é sua repetição. Então eu o repito. E repito e repito, ele repete, mergulhando já nalgum ondentro em si. Ele sente a calma que diz a si próprio sentir mesmo quando não está meditando. Os pensamentos que não consegue afastar totalmente ao menos esvoaçam em sua mente mais leves, quase translúcidos, quase gasosos, feito assim mais leves e translúcidos e gasosos do que já são quaisquer pensamentos, mesmo os que parecem ter a densidade de um buraco negro. Eu me acalmo. Mergulho. Mais mais mais. Os pensamentos passam a existir cada vez mais etéreos, como pessoas que vão se desmaterializando quando se teletransportam em filmes espaciais. Mas esse é um pensamento forte, elaborado, ressaltado quase como nuvem negra em meio aos outros pensamentos-nuvens que vagueiam quase invisíveis de brancura, e logo já não consigo nem mais qualificar os pensamentos porque tudo é muito sutil. E o mantra. E o mantra, repetido por trás, por baixo de tudo, dos pensamentos fugazes que são cada vez menos pensados e como fossem cada vez menos pensamentos, é difícil explicar, como se a mente mergulhasse no próprio corpo, no espaço interior infinito do corpo, a cada momento mais longe do que a diferencia do mundo, afastando-se dessas bordas e ao mesmo tempo diluindo-as, integrando-se ao que simplesmente é, sem que seja eu, e os pensamentos vão se espaçando, rarefeitos, e o espaço entre eles é essa calma, o silêncio dentro do silêncio, há muitos silêncios no silêncio e quanto mais fundo mais silenciosos são, e cada pensamento, raro, rarefeito, é também um silêncio, mais que um pensamento, e entre eles infinitos de tempo dilatados, tempo sem tempo, silêncios cada vez mais puros, e o mantra também é um silêncio, tudo é silêncio agora e eu alcanço com ambas as mãos o interior da bolsa posta entre as pernas cruzadas e dela saco duas pistolas Glock nove milímetros automáticas e de olhos fechados dentro do silêncio atiro todas as trinta e quatro balas dos pentes de munição num perfeito semicírculo a partir de minhas costas calmamente eretas contra a parede da sala.


Nunca estivemos no Kansas

— Deixa os caras

ele diz, e não consigo pontuar sua fala, entre a ordem nítida e talvez algum medo. Levantado contra o sol, na praia que de muitos modos fermenta como intestinos, é difícil distinguir seus traços sobre o corpo largo, mesmo a poucos metros. Estamos sempre tão perto no verão desta cidade.

Antes: eu já notara o grupo de garotos, molecada bebendo e falando alto, a zoeira preenchendo os abertos feito o sol, sem clemência. Pareciam querer desafiar a própria tarde, quixotes carregados de ímpetos nem tão cavalheirescos. Fermentavam também. A vários momentos, um bordão revinha às bocas, entre gestos inquietos: que eram filhos do sujeito. O presidente, aquele. Altos brados e risadas: filho dele, filhos do sujeito.

Eu oscilava entre mim mesmo e o redor. Como sempre, como tantos, talvez.

A dança caótica das moléculas do universo: perto, então, da molecada, chegam dois homens, com uma criança pequena, guarda-sol e o acaso mesclado à areia dos tornozelos. A zoeira se insinua, desenhando diante de si, daquelas moléculas de carne, ossos, músculos e pele, um alvo mais palpável que os átomos gasosos do céu azul. Provocam, tom acima a tom acima. Os homens a princípio não parecem perceber, entretidos entre si, a criança e sua língua estrangeira. A molecada insiste, chama-os assobiando, e quando olham: um dos garotos requebra-se em trejeitos, emendando com socos batidos contra a palma da mão, imitações de chutes, rasteiras, antes do mímico da rodada encerrar sua performance rumo aos tapinhas e risos dos companheiros, repetindo os brados: filhos dele.

No mais das vezes, hostilidade não precisa de tradução. Os homens falam entre si mais baixo do que faziam antes e olham em volta: como quem busca. Tudo tão perto e tão rápido nesses verões: feito aumentassem a aposta, alguns dos garotos se juntam em pé ao mímico da vez, já sem nenhum trejeito. Saem da própria roda, encarando agora mais de perto os que foram desenhados em alvo pela fermentação dos ódios, dos desprezos, do escuro que em alguns de nós subsiste ao mais potente sol. Os queixos se erguem, sustentando rostos crispados.

Um deles posta-se resoluto frente ao grupo. Outros dois avançam, pequenos passos, meneando as cabeças para cima e para baixo. Talvez os homens, certamente a criança, não entendam a frase com que todos nesta cidade legendariam o gesto: qual foi?, mas o gesto em si dispensa legendas em qualquer língua. Então:

— Deixa os caras

ele diz, por sobre o zumbido da praia fermentando. Em outro con-texto eu talvez tivesse desviado o pensamento, à deriva (: preciso fazer feira, ou: que horas são?, ou: e aquela vez em que seu esperma tem uma cor estranha / é o remédio pra vermes, ou: etc. etc.), mas já não oscilo. Atento. É preciso, às vezes. Ele também, eu sei, gostaria de apenas submergir e abafar as vozes dessa tanta gente espalhada sobre a areia, a terra e o asfalto do mundo. Mas é preciso estar atento. Forte.

(Lembro confrontos que não vivi: naquela mesma praia, anos antes, quando valentões espancaram um rapaz e o arrastaram e o chutaram e gritavam viadinho é daqui pra lá, e ninguém se levantou pra defender o quase menino, pra mostrar ao sol que ainda existem os que conhecem o que é certo, pra não deixar aquela tal linha, inaceitável linha marcada a vozes de espuma rábica, cicatrizar-se na areia da praia, na areia dos dias, na aspereza de areia dos ódios; Stonewall, outro confronto, outra latitude, um tempo ainda mais pretérito, quando ao contrário, agredidos e agredidas se levantaram contra algo muito maior: não apenas braços e pernas e cuspe mas cassetetes e armas e fardas e o peso da lei e a força que demos às polícias de toda parte desde antes de nascermos, como um pacto que não fizemos, mas ainda assim espera-se que obedeçamos. É preciso lembrar. Atentos.)

A porra do tempo alongado, esticado feito fronteira: o que há de haver daqui, deste momento agora, pra lá, pro depois? A espera em si como observando do alto se a linha do tempo vai explodir ou afrouxar, (re)acomodando-se nas areias quentes. O instante mesmo (mais que os homens) feito lâmina a decidir se arremete contra as carnes ou retorna à bainha. O tempo fermentando.

E entorna. A porrada come: levanto-me e corro. Não para longe, mas para o dentro da confusão. Nunca estivemos no Kansas, Dorothy.



thássio ferreira é autor dos livros de poesia (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018 – vencedor do I Concurso Literário da EDUFPR) e agora (depois) (Autografia, 2019). já publicou em revistas como Escamandro, Gueto, Ruído Manifesto, Mallarmargens, Germina, Revista Brasileira (Academia Brasileira de Letras) e InComunidade (Portugal). o conto Tetris foi vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017.