vagão catete
Noto que não há ninguém no sentido onde fiquei com os vermelhos. Troco de lado. Há um homem com farda azul www.supplybr.com.br. Ele está encostado perto de uma das portas e eu estou no meio do vagão em movimento, escrevendo bambo. Ele mexe nas unhas, rói as unhas. Tenho vontade de fazer o mesmo, mas as minhas já estão todas roídas. Lembro da mulher em rosa-choque e penso se já não há estudos etnográficos sobre o roer de unhas no metrô carioca. Até consigo ver gráficos e diagramas. Tenho um desejo estranho – estranho, nem tanto, mas desejo – de recolher os pedaços de unhas dele do chão do vagão para escrevê-las no meu papel. Um homem entre nós tosse e arranha a garganta. Volto os olhos para quem eu persigo. Ele agora me fita por detrás dos óculos, imprimindo no meu corpo a sua testa franzida. Penso que preciso ser mais cauteloso e desvio. Ele vira de costas. As portas se abrem e estamos na Estação Uruguaiana. Ele sai com os braços cruzados, como se estivesse com frio. Eu paro de andar. Minha respiração parece descontrolada. Ele diminui os passos para se ver num espelho acoplado na parede, duplicando os trilhos, os trens, os corpos. Que só fazem passar.
Encosto o papel na parede ao lado do espelho e passo a ver a estação pelo seu reflexo. Não paro de escrever, não paro de respirar, não paro de ver. Passa um homem mais velho com a mesma farda azul-marinho www.supplybr.com.br. Imagino que eles trabalham juntos. Nesta estação ou nos arredores do Saara, onde a passagem de gente é [falo reticências por dentro, penso na palavra, mas ela não sai. Dois trens chegam de uma vez só, cada um de um lado. Muita gente passa de uma vez só. O espelho aumenta as quantidades. Fico zonzo. Meu punho dói. Decido parar e voltar a seguir outro passageiro]
Onde a passagem de gente É.