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dois poemas

por larissa vaz


Lúcia lê o futuro nos seios diz que carrego 7 filhos em cada olhando meu seio direito inclina a cabeça faz que vai dizer e se cala. Imediatamente sei que encarar o silêncio de Lúcia será em vão e é por isso que sigo em tom resignado vou dizendo às vezes ler cartas é também ocultar & em seguida penso em como manter 14 crianças vivas. Rastrear as origens do temor nos levaria de volta à previsão ao rumo das práticas divinatórias a todas as alternativas anteriores ou não é pra tanto se há muitos e muitos séculos sacerdotes romanos dominaram a arte da adivinhação examinando as entranhas de um animal morto - por precaução é bom que seja assim. Seios, mãos, vísceras pouco importa a localização da impressão oracular, pouco importa o corpo ser o meu o seu o de qualquer animal como nós ou não alarmado ou não pela ausência de controle fatalmente condenado ao mistério de existir.  


lição

No entanto na infância as descobertas terão sido como num laboratório onde se acha o que se achar?
                                                                                                                              
Clarice Lispector

a língua dos infantes
coisa dura músculo vivo
sabor que antecipa o saber
matéria prenhe de sangue 
ode à percepção

talvez seja assim
a coragem infantil advindo 
de um corpo todo sendo
constituído pela via da negação



larissa vaz é uma mulher que cai. coeditou a antologia de poesia tertúlia (ágrafa, 2018) e colaborou como pesquisadora para as coletâneas Todas as crônicas (Rocco, 2018) e Todas as cartas (Rocco, no prelo), de Clarice Lispector.