ultrapássaro
na falta de fala eu espalmo
a mão perto da tua orelha.
encosto na pele a palma,
que uma flor vermelha nasce por dentro
a roçar pétalas.
e o teu rosto pesa como um trator.
***
geografia-tristesse
observo a montanha
que em um incrível movimento
milenar,
a jato,
redondo feit’uma mácula ou uma nódoa no terreno
vira poeira, rachadura, shibboleth
a doris salcedo en mi pecho.
***
anfíbio
você gelou as mãos no refrigerador,
entre os pedaços de filé e
brócolis, e pôs no meu peito.
sem saliva ou dentes, sem afago
ou rudeza, e pôs no meu peito
e foi embora.
foi sem fúria na cara, mas derramou vinho tinto no sofá,
under my skin.
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Sobre a autora:
Julya Vasconcelos nasceu em 1984, em Recife. Graduada em jornalismo pela UFPE, é também mestre em artes visuais e trabalha atualmente como curadora. Como poeta, publicou pouquíssimo e apenas virtualmente, com algumas incursões nas revistas Germina e Zunái, e fez parte do coletivo Escritoras Suicidas.