Aqui nos comilita o não ter asas. A clareza da falta a clareza da queda. O sumo de extinções que é agora o nosso sangue e que negreja. Nossos corpos separam-se para correr fumaça. Parado e diaspórico estou posto à janela. Observo fundo e figura com vistas a limitar. Pelas copas das árvores, por flores a que de há muito já não dão corda, com bem fraco lilás vê-se uma gente que corre. Deste ocorrer se ocupam, ocupamo-nos todos. Que povos decorrem disto? Que povos podem? Observo fundo e figura observo forma e dimensão lobrigo como que um pequeno planeta ou a espiral que o antecede. E há na cidade a espiral que a antecede. A vontade de jorrar contra Gênesis. Não ter exatamente uma natureza não ter exatamente uma cultura. Um primeiro momento antes de articularmos momento o momento cipoal momento em que todos os traços todos os atributos estão pisados numa única poção (então o nosso sangue e que negreja)
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poema de saimento
I.
Despedem-se dois amigos a dizer “até a vista”,
“até o mito”.
II.
Repercorridos, abraçam-se dois amigos,
cada qual preside a um centro que já não pode preencher de todo.
III.
Abraçam-se num terraço, abrem-se para infinita partida,
a doma de uma infinita partida.
IV.
Concordam, abraçados, despedem-se:
a Cinelândia é uma estação da vida.
***
O corpo se apresenta à queda
Enquanto ruímos
Do solar de Circe
Um nome
Nos raive
Talvez os lábios
- chamamento,
anátema -
O nome da queda
Ela própria
O rosto, o nome
Tornando-se primeiros
Intoleravelmente
Legíveis
Enunciáveis
Como nunca
Concretada
Vertigem e
Desate de todo
Mistério:
Não pairamos.
Drones
Bimotores
Majestosos
Urubus
Pairam. Nós
Não
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Sobre o autor:
Ismar Tirelli Neto é poeta, ficcionista, roteirista e tradutor. Nasceu em 1985, no Rio de Janeiro. Vive e trabalha atualmente em Curitiba. Lançou os seguintes livros: synchronoscopio, Ramerrão e Os Ilhados.