Há pelo menos vinte e duas causas diferentes de diarreia em vacas.
Eis algumas, catalogáveis após alguns meses de descanso no campo
(porque nem sempre é lírico aquilo que se acolhe no campo).
1. Coccidiose: causada por várias espécies de coccidas.
2. Vermes: sejam da variedade tênia ou ascáridas.
3. Alimentos estragados: grão seco, feno empoeirado, ou silagem
(a bolorenta). 4. Superalimentação:
de várias comidas. 5. Sal em demasia: sal
demais. 6. Melaço demais: melaço
em demasia. 8. Envenenamento
por vegetais (e toda uma pequena paranoia
em torno do discernimento dos vegetais interditos). 9. Envenenamento
químico (e toda a paranoia, agora em torno dos compostos
em circulação nos alimentos). 11. Distúrbio MENTAL
(se a posição mental da vaca já é uma posição muito desviante
quando tomamos como medida as posições mentais possíveis
dos seres humanos, em que severos desvios
entraria uma vaca acometida por um distúrbio mental,
do ponto de vista das posições mentais possíveis nos seres vivos?
E quais singulares quadros sinópticos
poderíamos elaborar com os distúrbios mentais
de que a vaca pode?).
16. Pneumonia: a vaca e seus acessos.
19. Nariz vermelho.
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O historiador natural Georges-Louis Leclerc
de Buffon fala em 1751 pela primeira vez
de moléculas orgânicas que a putrefação
libertava e que concorriam para a formação
de seres vivos mais simples. Estando eu numa vinha
de minha propriedade, próximo à vila de Meudon,
onde mandava quebrar grande e sólidas
pedras, encontrou-se no meio de uma delas
um grande sapo vivo. Não
havendo nenhum sinal de abertura
na pedra, fiquei admirado
de como este animal poderia ter nascido,
crescido e continuar vivendo. Então,
o trabalhador me disse que não havia motivo
de admiração, porque diversas
vezes havia encontrado aquele e outros
animais dentro das pedras,
sem aparência de nenhuma abertura.
Pode-se explicar da forma seguinte o seu nascimento
e vida: são engendrados de alguma substância
das pedras, cuja umidade putrefata produz tais animais.
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Sobre o autor:
Bruno Domingues Machado nasceu em 1983 e vive no Rio de Janeiro. Mestre e doutorando em Teoria Literária pela UFRJ. Publicou recentemente o minilivro de poemas Breve história da ciência (megamini/ 7Letras, 2017). Os dois poemas desta edição fazem parte de seu livro inédito, passa os meses na biblioteca do CCBB lendo livros de história natural.