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anote como chegar

por Frederico Klumb




a) pelo telefone, lhe direi o seguinte:

Há coisa de três meses meu celular tocou, vibrou minha barriga que tentava encaixar um cochilo na brecha de alguns trabalhos.

Atendi, eu e Ju nos falamos brevemente, também ela e seu corpo estavam ocupados tentando encaixar uma tarefa. Conhecendo a Juliana, suponho que tentando encaixar um trabalho na brecha de outro trabalho.

A Ju me contou a ideia. Achei a ideia tão simples, na minha cabeça um ‘essa menina trabalha à beça mesmo’. Me perguntei se eu mesmo não estava inerte para não ter pensado nisso, considerando que o ‘isso’ envolvia diretamente meus próprios objetos de pesquisa.

A ideia era, então, tratar com um pouco mais de seriedade o poema para fora do papel. Mais especificamente, tratar com mais atenção o diálogo entre o que conhecemos como poema em seu suporte de papel e as manifestações poéticas em vídeo, caso não queiramos chamar algumas delas de poemas.

Isso é a Drive in.

É bobo dizer que fiquei muito contente com a ideia: fiquei muito contente com a ideia.

A partir daí, o que foi feito para que chegássemos até aqui, para que você que lê o presente texto pudesse também assistir aos vídeos que vem a seguir – como chamá-los? Fica a seu critério –, configura um trabalho de pesquisa, de manobra de objetos aparentemente distintos, pois que não trajam os mesmos suportes, mas, creio, muitíssimo parecidos se pudermos pensar em seus centros, se pudermos imaginar um núcleo em cada um desses objetos.

Digamos que o poema-papel seja um átomo específico, que tenha um núcleo específico, com sua organização própria. Digamos que o vídeo-poema, outro. E que os objetos nomeados como vídeo-arte, ainda outro. E que alguns filmes experimentais, mais outro.

Digamos que todos esses átomos, por diversos que sejam entre si, tenham como seus componentes básicos de organização as mesmas partículas, a mesma paleta para operar: a poesia.

Digamos que cada um deles seja uma possibilidade de arranjo desses elementos básicos, essas partículas.

Isso é a Drive in.

b) mas se preferir um mapa, o que segue é o que estará grafado:

Drive in, a poucos centímetros:

Nosso objetivo nessa seção é estabelecer um diálogo sintático entre manifestações da imagem cinematográfica, suas ramificações no cinema experimental, a vídeo-arte, os vídeo-poemas e o poema em seu suporte propriamente escrito, no papel.

Acreditamos que o diálogo entre as artes é a melhor maneira de dar a ver gramáticas já consolidadas ou não, por onde é possível transgredir essas gramáticas, questionar técnicas estéreis e permitir espaço para que novas experimentações surjam no cenário.

Também pensamos que, por vezes, os circuitos independentes do audiovisual podem ser tão fechados em si quanto os da própria poesia. Por essa razão, nos parece igualmente parte constitutiva de nosso trabalho permitir, a tantos quantos for possível, o acesso e a participação, ainda que pelo outro lado da tela, às manifestações que julgamos importantes para a construção dessas gramáticas a que nos referimos.
Tentaremos então, a partir dessa edição, montar um grande mosaico, uma longa conversa que possa se estender por mais tempo, em que se ouçam as vozes, os trabalhos de realizadores independentes de todo o globo. Permitir que, aqui em nosso sul do mundo, mais pessoas possam com esses trabalhos entrar em contato. E, sobre esses trabalhos, vislumbrar ainda outros.

Acreditamos que as coisas carregam muito mais do que dizem seus nomes. E que, por vezes, algumas estão mais próximas do que parecem.

Pode se acomodar, a sessão já vai começar.