retrato
Um dia você me disse
que nas loucuras incendiárias de sua mãe
os copos deveriam sempre estar
alinhados, portentosos e cuidados
como o corpo polpudo de um bebê.
E que você deveria manter-se de pé afastada
a fim de não quebrar a vigilância sagrada
da edificação materna,
que mantém sob vigília
toda a vidraria da casa,
e impede que os cacos se espalhem
e se alinhem
sobre o lar.
À noite,
sua mãe
se despedia das estantes e
louças
enquanto você olhava de soslaio o delírio
e ela repetia pra si,
pros mortos,
pras paredes
e pros ecos dos vidros:
– cá dentro, todos dormem.
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Sobre a autora:
Brenda K. Souza tem 25 anos. É nascida em uma cidade interiorana e ribeirinha em Minas Gerais, e vive atualmente em outra, Montes Claros, onde tenta finalizar um mestrado em literatura – com destino às relações entre o corpo & a poesia.