muitos aqueles que nasceram com os muros caindo na fissura
de achar os sonhos
foram simplesmente envelhecendo
vendo as imagens parindo
no meio do rebuliço
sem haver tempo de medi-las, precisa-las
o que exatamente faríamos
quando o mundo estava à nossa entrada
e não podíamos cerca-lo como bem
o entendêssemos
como cercam áreas para estacionamentos
apenas ver
sabendo que
ver é um estado de catatonia
porque nenhuma ação a suplantará
enquanto verbos ainda medirem
a altura dos seres
porque nenhuma paixão
é suficientemente grande que esconda a tremura
para consegui-la por si mesma
talvez consigam ver
uma ferida espana na central
a ofuscam
as luzes em torno
***
Primeiro nos marcam nas têmporas
Com brasas invisíveis que só os brutos vêem
E se depois com as mãos
Fazemos círculos no ar que se desfazem
Então no chão ficam as sombras das coisas que erguemos
E se com os pés visitamos novos territórios
É porque há um lugar
Em nossas têmporas que não fecharam
E ninguém nos reconhecerá na rua.
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Sobre o autor:
Stefano Calgaro nasceu em Porto Alegre (1991), mas é praticamente radicado em São Paulo. É graduado em cinema e cursa letras. Tem poemas publicados na Enfermaria 6, Jornal Relevo, Mallarmargèns, Revista Usina, Germina, Zunái e outras. Escreve no lerfamu.wordpress.com