é precário
você precisa
contrabalançar o peso
não sei,
a vertigem é normal.
sem olhar,
você se acostuma
com quase quase tudo
1
ler contos de fada para as crianças
a realidade
versus
o lobo visto por dentro
eu tinha náusea,
mas aprendi a respirar
pelo diafragma
ninguém ensina
essas coisas úteis
joga o ar lá pra baixo
na barriga,
conta
1,2,3 expira
2
até uma idade
não temos linguagem
está quase tudo ali,
mas não temos vocabulário
frustração e desamparo
são palavras grandes
só chegam bem depois
é estranho.
é pra enganar a cabeça
não olha, senão é pior
aceita: é muito instável
3
ninguém vai querer
ser a pessoa
a te ensinar
a nomear a tua raiva
mas e o medo?
Inspira.
vai dar merda
conta.
não consigo
expira
1
boa parte dos sentimentos deles
nada tem a ver contigo
a menos que
você realmente os incomode
mas é preciso começar
e depois?
continua
até quando?
não olha, vai
2
não explicamos a eles nosso medos
vamos ficando bons nessa coisa
aparentar certezas
é sempre assim como se estivesse caindo, às vezes você puxa de volta, mas não
[muito
rápido, nem com
muita força, vai doer porque é preciso manter a atenção, um mínimo de clareza
[com o
tempo pode ser
cansativo, por isso a náusea, então respira
3
ler histórias em quadrinhos com as crianças
para que elas continuem sabendo ler
quando estiverem presas dentro
do que parece um adulto
respira, porque o tranco do corpo na ânsia é forte demais, e não, nada de
[movimentos
involuntários, tudo
bem, pode chorar um pouco, mas devagar, é preciso diminuir a velocidade, até se
acostumar com a
diferença
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Sobre a autora:
Stephanie Borges é jornalista, tradutora e poeta. Carioca, 33 anos, é formada em Comunicação Social pela UFF. Trabalhou em agências de comunicação e editoras como Cosac Naify e Globo Livros. Escreve uma newsletter sobre leitura e cultura pop, a cartinha de banalidades. Atualmente traduz as poetas e ensaístas Claudia Rankine e Audre Lorde para o português. https://tinyletter.com/stephieborges