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Oficial de Designação Numérica 37 & Oficial de Designação Numérica 38

por Gabriel Tavares


  – Qual foi? – perguntou 37, se espreguiçando na cadeira reclinável. – Vai liberar o bagulho pras visita, não?

O velho chinês só o encarou. 38 aplica a arma de choque na axila esquerda do velho, fazendo-o tombar para frente e cair com a testa na quina de madeira. 37 forçou um risinho e acomodou os pés na escrivaninha.

– Tu fala português ou não fala, ching-ling safado?

O velho sem muito esforço sai da posição fetal e tenta se erguer com os joelhos e mãos.

– Falo português melhor do que tu fala cantonês. – respondeu ele, esguichando uma cusparada de sangue fumegante quase antes da frase terminar. 38 aplica um chute com o coturno blindado no estômago desprotegido do chinês, e dessa vez 37 interfere:

– Que isso, Oficial de Designação Numérica 38, pega leve com o tiozinho, ele já passou da idade de brincar disso.

– Não fala merda, Oficial de Designação Numérica 37. Ninguém fica velho de mais pra apanhar.

– Não. – interfere o velho, sua voz distante e seu fôlego econômico. – Não.

– Esse bagaço daí que assassinou doze só do nosso batalhão? Ridículo. Tô decepcionado, Oficial de Designação Numérica 37, tava crente que esse cara era o pica dos multiversos.

– Tá vendo? O cara é só um chinês magrelo sem comida no bucho. Pergunta logo onde que ele guarda o haxixe argelino que a gente mete o pé e escreve no B.O. que o cara escapou do camburão.

– Tu tá ficando é frouxo mesmo, Oficial de Designação Numérica 37. Cada oportunidade de assassinato sem testemunhas que vem parar na minha mão tu só quer cagar no pau. – diz 38 sacando a pistola.

– Bom dia, Oficial de Designação Numérica 38. Em que posso ajudá-lo no momento presente? – pergunta uma voz que sai da arma.

– Oi gato, tá vendo esse chinês velho aí no chão? Então, eu gostaria de aplicar um tiro de calibre quarenta e quatro no tórax e dois de nove milímetros na testa.

Três projéteis teleguiados saem simultaneamente do cano da arma e perfuram pontos específicos do chinês. 38 agradece – Valeu, gato. – e guarda a arma no coldre.

– E ele nem me disse onde guardava o bagulho. Tomara que você e o seu namorado tenham se divertido, Oficial de Designação Numérica 38, porque eu me diverti pra caralho hoje.

– Tá com ciúmes? – ele brinca, ao que 37 não responde.

Os dois saem em silêncio pelos corredores do prédio decadente sob o olhar apavorado de crianças chinesas assustadas com o barulho dos tiros, o sangue dos guardas mortos e a aparência hostil das armaduras biomecânicas blindadas que os dois oficiais trajam.

Quando cada um tocou na maçaneta do seu respectivo lado da viatura, 38 solta:

– Um oficial de justiça não poderia ter um parceiro melhor, Oficial de Designação Numérica 37.

37 o encara por detrás do visor por um instante. Lentamente remove o capacete preto fosco de vidro blindado com o número 37 escrito em branco na dianteira do visor. 37 exibiu seu rosto pálido cadavérico estampado com um sorriso. 38 repete o gesto com pressa e afobação, exibindo seu rosto cinza e putrefato estampado com um sorriso de alívio e um par de olhos tristes quase que lacrimejantes.

– Quer ir extorquir pó daquele judeu otário lá em Copa? – diz 37, ainda sorridente.

– Porra parceiro, só se for agora. Entra aí que ainda tá na minha vez de dirigir.

Os dois arremessam os capacetes na traseira do camburão. 38 conduz o blindado passando por cima de pedestres desavisados e carros menos resistentes em direção ao céu rubro de final de tarde no centro. Os dois riem à toa sem parar e em dado momento se entreolham.

– Entrar pra polícia foi a melhor ideia que você já teve.

– Eu te amo.