No topo
Ao lado de um cristo duro
e imóvel
reconheço a cidade elétrica
As crianças, mulheres
e todos os outros
não sabem que daqui também posso ver
os aviões que pousam e decolam,
as casas silenciosas e cansadas,
os sinais que abrem
e fecham,
o carro prateado igual
ao carro prateado do lado esquerdo
que espia o homem de perna amputada
pedindo dinheiro e mostrando a ausência
Enquanto, do outro lado,
de maiô com babados de flor
uma velha de dentes amarelos
e falsos
abraça pela primeira vez
a praia
E tudo é guardado na memória
da máquina da turista que, excitada
descobre uma Copacabana
azul e engarrafa
Mas ali, a foto não revela que
no alto
no topo
ao lado do Cristo
alguém reconhece a cidade
e os homens
***
Poema escrito do alto:
No vácuo um corpo
em queda livre
sufoca antes
de achar o chão