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Do frevo ao manguebeat

por Anabella Rocha


Talvez pareça estranho falar de uma obra já antiga, lançada em 2000, que teve sua segunda edição em 2012, pela Editora 34. Mas, explico-me. Assistindo a uma aula na faculdade de Letras, pude observar que muitos colegas não conheciam o manguebeat e que alguns sequer tinham ouvido falar de Chico Science. Assim, achei que seria bom reavivar a memória desse movimento tão importante para cultura brasileira.

A obra Do Frevo ao Manguebeat, do jornalista José Teles, revela muitas histórias desconhecidas para o público dos estados mais ao sul do Brasil da rica cena musical pernambucana. A gravadora Rozenblit, por exemplo, que fechou em 1986, chegou a ter uma repercussão nacional, gravou Tom Zé, Bobby Di Carlo, Claudette Soares, novabossista entre outros. Recife revelou Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e teve um movimento tropicalista, quase simultâneo ao baiano, com quem dialogou diretamente. Nos anos 70, floresceu o rock com bandas como Ave Sangria. Desta época surge Alceu Valença, que tem grande destaque no livro. De acordo com Teles, Lenine foi um dos últimos. Nos anos 80, resistiram algumas bandas de heavy metal e punk rock, que iriam influenciar o manguebeat, movimento musical fundado por Chico Science e pelas bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.

Nesse percurso, José Teles vai escavando a tradição e os caminhos percorridos pela música de Recife, conta muitas passagens desconhecidas para nós e nos situa da importância de Pernambuco no cenário nacional da música brasileira.

Ao final do livro, o autor chega ao manguebeat e a Chico Science, seu principal pensador e poeta. Nos diz José Teles em seu livro: “aquele rapaz amulatado, de estatura mediana [...] não tinha pressa, e arrotou arrogância nas explicações sobre o que seria um novo gênero que teria inventado: ‘O ritmo chama-se mangue. É uma mistura de samba-reggae, rap, raggaemuffin e embolada. O nome é dado em homenagem ao Daruê Malungo (que em iorubá significa companheiro de luta). Um núcleo de apoio à criança e à comunidade carente de Chão de Estrelas.’”

“Da lama ao caos/ do caos à lama”, a música de Science e Nação Zumbi, os caranguejos com chip, nos oferece os tambores do maracatu, marcando um som antenado ao moderno e às novas tecnologias, que embala letras inteligentes, sintonizadas com o povo.

Deixo, aqui, minha homenagem a Chico, que se foi prematuramente num acidente de carro, e minha sugestão de leitura e música.