no domingo eu digo
começarei às sete
depois digo começarei às oito
às oito digo começarei às nove
enquanto isso não há
poemas não há cartas seladas
nem a coragem para as conversas sérias
há preguiça e sorvete
formigas na mesa
chaves na porta
e outras coisas que já não me lembro
***
tu o bode temendo o dispersar dos nomes
eu a cabra sondando os ventos da costa
nós os bichos afoitos na noite larga
se engolindo
***
em janeiro são sempre os mesmos rodeios:
um pacote de instruções obscuras
sangramentos minhocas e más intenções
a catástrofe virá em forma de quina
curva dobra canto de um órgão oculto
imune ao verniz dos acordos
elas me dirão você não tem jeito
você irrompe em caco e tralha
enquanto sacrifico a placidez
pelo novo terremoto
vai ser assim
mais uma vez