a morte dos marinheiros
treze mil soldados
todos debaixo d'água
mortos
não se sabe de quê
que tristeza!
vinte mil viúvas incertas
trocadas pelo mar
saudade bárbara
amor eunuco
se alvejados
doentes
ou afogados
ninguém sabe do que primeiro morrem os soldados navais
ninguém conhece os ferimentos fatais
de uma guerra submarina
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marília floôr. poema do livro Siete colores e um pote cheio de acasos (2013)
o choque
do choque entre os continentes
africano e sul-americano
surgiram alguns planaltos
mas isso foi há muito tempo atrás.
ainda bem que frio chegou junto com teus dentes
e foi-se embora nas tuas juntas
braços de passarinho
as canções feitas na prisão
costumam ser mais belas que as tatuagens,
todas tem
seus efeitos perpétuos
agora, cancelem a poesia concreta
mandem fechar a depressão central
a serra do sudeste
botem abaixo
os planaltos palácios chapadas
aí eu quero ver
alguém não ver
o choque
bico de pena
acreditamos na anistia
como acreditamos na abolição
e quanto mais essas coisas
se disfarçam de paz
mais violentos
parecemos nos tornar
mas que patada bem dada essa
que faz o próprio esfacelado
duvidar do golpe!
foz
navios de exílio:
partir navios que não exalem
ares de negreirosembarcar numa arca
que nos arque aos bandos
e que nos leve a um porto
que nos comporte às levas
cavar canal por sobre a cova
um raso estreito pra desova dos estranhos
(nós)
das entranhas a foz
içar um barco à vela
com ânsias de vará-la
vala incomum, atlântico oculto
à tona em mim
atlas do fogo nas mãos da água
afogas aos afagos
diabos ávidos
por êxodos