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dois poemas com curra

por Leonardo Marona


 

MAQUILA A MÁSCARA

maquila a máscara e o muro que isolem teus espiões
dos afiados, esmaltados olhos e das garras de óculos,
curra e rebelião nas enfermarias da minha face,
mordaça de árvore caída bloqueando inimigos expostos
da língua de baioneta através da indefesa ladainha carola,
da boca presente, trombeta de mentiras que sopra docemente,
forjado na velha armadura em carvalho o semblante idiota
para amparar os miolos cintilantes e pilhar os examinadores,
e um pesar de viúva manchou com choro o vergar dos cílios
para velar beladona e deixar que olhos secos reclamem
os que traem, de suas derrotas, as chorosas mentiras
pela curva da boca nua ou pela risada guardada na manga.

***

O MAKE ME A MASK (Dylan Thomas)

o make me a mask and a wall to shut from your spies
of the sharp, enamelled eyes and the spectacled claws
rape and rebellion in the nurseries of my face,
gag of dumbstruck tree to block from bare enemies
the bayonet tongue in this undefended prayerpiece,
the present mouth, and the sweetly blown trumpet of lies,
shaped in old armour and oak the countenance of a dunce
to shield the glistening brain and blunt the examiners,
and a tear-stained widower grief drooped from the lashes
to veil belladonna and let the dry eyes perceive
others betray the lamenting lies of their losses
by the curve of the nude mouth or the laugh up the sleeve.

SEXO, COMO DESEJO

(afastado das ruas. clarão
nos bolsos, o cheiro dos dedos, profundo segredo.
cada noite, outra curra. garotinhos se escondem nos topos
dos montes, nos postos de gasolina e botecos, esperando
para chegar ao pico. não é nem mesmo amor. ainda, eles
esperam, e fazem acreditar
que são bonitos.
poderia ser eu, mesmo agora. (tão lento, chego a ver
eu mesmo. estar no ponto enferrujado do meu peito de
criança morta. onde há vida, todo corpo, para fazer
mais que um contorno, uma sombra asfixiada contando
de novo, sua mudança.
o que há lá? onde está? quem é ela? o que eu
posso me dar de mim, trocar de mim, para me fazer
entender a mim? nada acaba nunca. nada passa. cada
ato da minha vida, comigo agora, até a morte. eles mesmos,
as razões para isto. eles são pedras, na minha boca
e ouvidos. florestas inteiras sobre meus ombros.

***

SEX, LIKE DESIRE (LeRoi Jones)

(away from the streets. flash
into pockets, the finger’s smell, deeply secret.
each night, another rape. young boys hide at the tops
of hills, near gas stations e breweries, waiting
to make the hit. It is not even love. still, they
wait, and make believe
they are beautiful.

it could be me, even now. (so slow, I come to see
myself. to be at a point rusted in my dead child’s
breast. where the life is, all the flesh, to make
more than a silhouette, a breathless shadow counting
again, his change.

what is there? where is it? who is she? what can I
give myself, trade myself, to make me understand
myself? nothing is ever finished. nothing past. each
act of my life, with me now, till death. themselves,
the reasons for it. they are stones, in my mouth
and ears. whole forests on my shoulders.