Nas imagens de Exílio é estabelecida uma relação entre fotografia e auto-performance, em que o corpo (da própria artista) atua exclusivamente para a câmera, distante do olhar direto do público. A encenação se presta à narrativa fotográfica, já parte da lógica bidimensional, do tempo estático e mudo. Fotografar sem ver a cena: é uma imagem da ordem do antes (imagemprojeção) e do depois (imagem ao acaso). Na formação da fotografia, o sensor da câmera é invadido pela luz, sem a direção de um olho, ela surge de um instante anônimo, na abstenção do sujeito. Não há caça, não há um verdecisivo. É como um tiro ao contrário. Não é a câmera que vai de encontro ao objeto, mas um corpo que se atira sobre o disparo: corpoprojétil. Na relação do corpo com a natureza, ele retoma aquilo que lhe é mais próprio, sua dor no encontro com a exterioridade, sua condição de corpo afetado pelas forças do mundo. Vivência a experiência do ser deglutido, processado, reinventado na ação relacional, onde o corpo se desprograma, volta a ser um campo de forças vivas que afetam o mundo e é por ele afetado. O exílio que está em questão é o do corpo em relação a si próprio. No processo da auto-performance procuro produzir aquilo que denomino como “práticas do abalo de si” que permite me reinventar e produzir uma auto-ficção. Há aqui um retorno a si próprio um retorno que, notase, não apazigua, mas questiona , que se dá pela experiência no espaço, em que o corpo é movido por um desejo relacional. As tentações do espaço se revelam a ele no encontro com outros corpos (inumanos) que surgem em seu movimento de deslocamento pela mata. A “experiência”, termo chave que guia o processo de “Exílio”, é pensada aqui a partir da ideia de vivência, como dispositivo que media a produção, como um processo que constrói novos mundos, relações e sentidos e desencadeia a produção da imagem.