05:30
o cheiro das tuas mãos quando acordas
a tua primeira vez
quando te perdeste de teus pais na multidão
as brincadeiras que tua mãe não permitiu
o dia em que a menina de quem gostavas na escola confundiu teu nome com o de teu melhor amigo
a imagem que evocas, sozinho, segundos antes de gozar
a cor dos teus mamilos
as veias mais salientes dos pés
cada um dos teus calos
os pensamentos recorrentes na madrugada
a história das tuas senhas
uma intervenção cirúrgica
um desconhecido que tiveste vontade de seguir pelas ruas
a prima que, talvez sem querer, tu surpreendeste nua
a primeira composição que mostraste a teu pai
as ex-namoradas das quais não tiveste mais notícia alguma
a palavra que pronuncias errado
a tua expressão quando ela chega em casa
o local exato em que tu vais estar quando eu te alcançar com boca, braços e pernas
o momento em que, ao nos olharmos, eu entender que melhor seria não pensar tanto assim
saturno
Cheguei à praça que recebe o nome de minha avó, no município de Senador Pompeu. Estou de volta, após vinte anos. Ao olhar os arredores, lembro exatamente quais eram as casas dos meninos por quem me interessei quando criança. Pedro, Victor Hugo, Davi e Sansão. Este último me parecia o mais bonito. Era o caçula em uma família de cinco irmãos. Meus primos diziam que cada irmão tinha um nome mais engraçado que o outro. Eu não achava engraçado o nome dele, Sansão. Achava macio, carinhoso de pronunciar, ainda mais porque ele me chamava, agarrando com a mão esquerda um filhote de coelho contra o peito, para lhe ajudar a apanhar capim nos jardins da praça. O capim era para o coelho, em cuja cabeça eu passava os dedos vagarosamente e já sentia seu corpinho inteiro tremer, o coração descarrilhado. Eu era um pouco aquele coelho toda vez que Sansão me chamava pelo nome e não sorria.