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[2 poemas]

por João Manoel Nonato da Silva


[algo me ocorre e é belo]

algo me ocorre e é belo, é vermelho
nome a nome.
penso, o verbo, o devir de pétala
que aguarda o peito. isto é,
penso o verbo que vem pele adentro,
sobe, sangra imensamente
poema afora.
penso vermelho em ti
& é imenso, o peito, algo de cítara
em cítara aceso.
algum devir que súbito ocorre,
1 timbre de trigo,
ocre lírico que sobe das coisas. afora
o nome aceso das coisas.
isto é, ou beleza
que vem à pele, sangra de verbo
em ti. o poema,
penso.

[myse en abyme]

nós temos olhos, lábios, temos mãos;
somos iguais no toque e no silêncio
e nessa crença no sangue e na carne
que recursivamente demarcamos:
derrama tua pele em minha pele,
e no abismo da imagem refletida
nós vamos nos verter e tomar forma.