Sou o que quis ser, mas sem poder ser,
pois a realidade do poeta
não é diferente da do profeta
em solilóquio no meio da feira:
ambos fabricam peças de encaixe
− um das suas fés, outro das palavras –
e ambos conectam o que é sonho
− antes um improvável horizonte –
ao que é possível para o homem.
Sou o que quis ser, mas sem bem saber,
de prima, que o poema rebenta
natimorto, vão, aquém e absorto.
E ninguém acredita no poeta,
tampouco no verso que ele versa.