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sereia blooming blues

por Rita Isadora Pessoa


porque é preciso
exercitar a violência
que só uma ideia incorpórea
imprime
ao corpo
-- ricochete que vai de trás
para a frente
em mar aberto, ferida
que espuma pela boca sal
e gritos e gritos     e gritos

no fundo, a vida depende
da coragem de arrancar
um sorriso tímido dos astros
com um pé de cabra
investigando a malha beligerante
                               na marra:
qual era mesmo o teu formato?
qual a velocidade com que
crescem os ossos?
onde ficou aquela que partiu
antes, antes de todos?

 [que partam todos os raios
          que partam todos
   e que ainda assim eu fique
   que eu fique - só e inteiriça
que seja pernas ou rabo ou nado
        inspire respire amém ]

para descobrir tarde demais que
a coisa mais triste do mundo
                                 é a pele

que a coisa mais triste do mundo

        não deixa sequer cicatriz