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retrovisor


Cicadoidea

Dia 11 de novembro de 2015. Uma cigarra agoniza na minha varanda. Eu observo a cigarra. Ela tenta alçar voo, mas os seus três pares de patas escorregam no liso da cerâmica. Se ela estivesse pousada num chão de terra, já teria decolado. O atrito das seis patas com a terra facilitaria o impulso. Aqui ela escorrega. Patina. Perde forças. Quando consegue finalmente o impulso, está fraca. Voa dois metros e pousa de novo. No chão. Penso em ajudá-la. Mas como poderia? Poderia me aproximar, segurar seu corpo, transportá-lo até a janela, lançá-lo no ar. Ela não permitiria essa aproximação. Ela não se deixaria segurar. Ela se debateria, agitando seus dois pares de asas. Eu não conseguiria me aproximar. Eu não suportaria a aflição de segurá-la, sentir seu corpo se debatendo entre minhas mãos, suas quatro asas agitadas. Não poderia ajudar. Ela ia morrer na minha varanda. Eu ia assistir a essa morte. Pior. Eu ia filmar essa morte.