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a chance do corte

por Nina Zur


como se o mundo
tivesse uma arma
apontada
para
nossa cara
passiva
e nos fosse exigido
um retorno
impronunciável
.
pairamos

 

***

 

andar no escuro
tateando
os nossos próprios
restos
e não encontrar
nada além do
projeto do desejo
e continuar no escuro
ruminando os restos
.
sem desejo
mas eternamente ocupados

  

***

 

ah, puta solidão nossa
agarrada como o bafo do álcool
como o cheiro da merda
como o que ficou do corte
como o próprio corte
como a memória do corte
como o medo antes do corte
como a chance do corte
vivemos tempos difíceis (mas
que tempos não são difíceis e quantos dias houve sem pequenas e
grandes
tragédias quantos
sorrisos amargos e cabeças baixas quantos
socos no estômago murros
em ponta de faca
baforadas de escrotidão no meio da
fuça
.
é, vivemos tempos difíceis tão
difíceis
quanto saber da fome saber de toda
desgraça saber das algemas saber
das grades e
dos corpos dentro das grades das
algemas
e dos corpos dentro da fome
vivemos tempos difíceis
vivemos tempos
vivemos)