depois do balanço
só fez alargar em mim
– alargar é a condição dela
diz o agressor
alargar em mim
esse belo e imenso espraiado
essa quase-paisagem
[do desamparo
do corpo]
envolta em sua própria solidão.
nessas condições fica difícil –
o verão
se a isso ainda somamos
o desprezo do fechado sobre si
a reinvenção dos guetos
sem Varsóvia
essas vassouras dos novos modos de autoajuda
que nada espanam nem espantam
onde o comum vira veja
e desinfeta
– a jovem continua comida pelo, o poeta, os efebos, e a antiga grécia
continuam aqui agora e mandam – e, sim, ainda somos um país colonizado
sem metafísica
e de ídolos canibais
confundimos fronteiras espaço-temporais
conforme prescrição do agressor
nenhum lisérgico
nos auxilia na passagem
nenhuma volta ou origem
o sucesso iguala-se à normalidade
exigida
segundo as prescrições do agressor
e o fracasso, claro, mantendo as dicotomias de pé
mesmo quando o outro estrebucha ao teu lado
é o fruto podre da loucura,
uma pobre convulsão.
nessas condições climáticas
– apesar dos trópicos e dos portugueses
ainda nos quererem –
nessas condições climáticas fica difícil
escrever um poema erótico
fica difícil
escrever
bem, quem sabe lá do frio
vendo tudo isso aqui queimar
da janela
sobre os parques de nudismo
que por um instante te fazem crer viver como num bosch
insisto, e isso só piora tudo
essa minha indocilidade, diz o agressor
apesar da aversão aos açúcares e das prescrições dele mesmo
jamais terem impedido à minha buceta
o doce
mas crer que ela, esse buraco rochoso, esse penhasco sem encosta, essa aventura sem treino
possa ser docilizada
poxa, quanta maldade, sr. agressor!
enfiando aqui toda manhã essas mesmas e melhores intenções
que a preencham
disso que os pares guetos e grupos de autoajuda mútua tramam
entre seus paus e bucetas
no oco da minha
nada disso por fim seria heroico
não, nem adianta
aqui não há nenhum heroísmo bucetal
nenhum desejo mimético dela como pau
nada que sirva à covardia de vocês
continuar gozando
com o que levam e lavam
antes a sujeira dos padres
que ao menos deixavam ver debaixo das suas batinas
do que essa visibilidade cheirosa da superfície
sobre redes
e canoas furadas
essa falsa sociabilidade dos abutres normopáticos
como diria A., quase toda a humanidade
não fará
não fará
não fará sobre essa buceta aqui nenhum véu de sacrifício
sua carne dilacera-se entre prazeres indizíveis
que ela jamais escreverá
– não por pudor –
esse plano raso e insensato das horas gastas na cama
diante da sodoma que me algema
nos trópicos banguelos
onde quem mostra os dentes são sempre os mesmos cães
vou resistir
vou resistir infinitamente à ideia
vou resistir a toda ideia de escrever
que me-ditam
como essa ressuma do prazer e da dor encravou-se de tal modo
vou resistir ainda ao sonho dessa glote vampira
em mesa de glutões
aos que nos submetem todos os dias
para, em seguida, nos indagar – por que o nervosismo?
não, esse poema não vai acabar
vou resistir também a ele
que insurge sem uma palavra
bela do erotismo de plantão
contra essa injúria dos poetas
não ser grande
não ter nome algum
voltem para os seus parquinhos
de pórticos poéticos
vou resistir
e vou continuar
na selva
resistir
aonde até bicho tem medo de entrar
no erotismo desse tipo de animal
ainda não catalogado
apesar da invasão de vocês
guardo.
resisto.
resto.
em minha buceta translúcida com as histórias incontáveis.
erotismo mesmo – aqui nos trópicos – só se vive assim
ou no parquinho ou na brutalidade.
claro, tudo isso eles dizem, depende da sorte.