manual de segunda mãe
remover GARUPAED_guilherme conde com segurança
Abra o livro de guilherme conde (edições garupa, 2015). Ou melhor, tire a rolha do livro de guilherme conde, caderno de segunda mãe. Lá, dentro de uma garrafa transparente, jaz um pen drive. Acesse-o. Leia os poemas.
No posfácio, eu já havia mencionado a proximidade de cardeno de segunda mãe com a ideia que Derrida cria de uma poesia-ouriço; uma linguagem que não apreendemos confortavelmente; um ser impossível de pegar com as mãos sem analisar como.
O livro-arquivo do poeta de vinte anos remete ao vazio e à vastidão do oceano, hoje cibernético, e a desesperançosa mensagem boiando. A mensagem na garrafa. O pen drive na garrafa. A pirataria – poética, virtual – calculada.
O conceito é a rede de informações. Há um segredo contido em algo muito pequeno; alguma poesia pós-internética que quer comunicar através de suas referências. A leitura de caderno de segunda mãe começa na materialidade do livro.
Transwarhol
Depois de acessado o pen drive, você notará que há outros arquivos lá dentro além do livro. Abra o que está intitulado “k7 de segunda mãe”. Nele, há um vídeo chamado burger queen bruto.
É irônico (ou icônico?) que andy warhol seja uma referência para guilherme conde. Em meio a um universo pop-virtual, absolutamente diferente do qual warhol liderou nos anos 60, conde propõe uma releitura do vídeo experimental andy warhol eating a hamburguer. A diferença é espaço-temporal.
No vídeo de guilherme a câmera é dividida. De um lado está o poeta-artista visual, remontando um lanche de uma rede famosa de fast food, guardando a batata frita, tirando o canudo do refrigerante, fechando a caixa do hambúrguer e por fim reorganizando tudo dentro do saco de papel; do outro lado, temos guilherme de peruca e vestido, uma maquiagem discreta, comendo o lanche que no vídeo ao lado é guardado.
É possível ler um questionamento das referências usadas por andy warhol e uma sutil autocrítica de gênero, um espelho que mostra ao autor sua imagem travestida. A ironia é que andy warhol previu um futuro pós-genêro.
Do trash ao truque
Fast food @ keira’s, também parte do livro-pen drive e conta a história de duas travestis que oferecem a alma de uma terceira ao diabo em troca de serem as maiores estilistas do mundo da moda.
A edição é impressionante. Desde os recortes da abertura, passando pelos planos em detalhe, até a trilha sonora bem escolhida e bem implementada.
Aqui, quem dá as caras é o cineasta john waters. Curioso a edição ser bem feita, pois estamos falando de um filme absolutamente trash. Não há preocupação com a locação, maquiagem, som diegético, atuações, figurino, ou qualquer elemento que não seja a narrativa e a intenção de deixar as referências claras.
É um filme ruim. É bom porque foi feito para ser ruim. O truque está na montagem, repleta de referências à cultura televisiva dos anos 90 e ao filme pink flamingos, do próprio waters. É ver pra crer.
Windows 95 e a violência psicopata das imagens
Clique em hipertext. Relaxe. Aprecie as imagens enquanto ouve uma trilha que parece compor uma viagem à praia. Mentira, não relaxe tanto. A sequência é um tanto perturbadora.
De cara, o windows 95 inicializando o que ainda está por vir. Literalmente, a profecia moderna dos próximos 15 anos.
Duas hienas comem sua presa ainda viva. Você olha. Alguém que parece ser a bjork conserta um computador. Mrs. ronald mcdonald olha para a câmera de maneira sedutora. Mais animais devorando sua presa. Uma menina de olhar doentio te encara. Agora ratos comem um animal morto. Câmera de segurança. Um grupo de homens trocam socos sem censura. Porradas bem na cara. Sailormoon pornográfica. I’m very horny. Hienas. Na savana. Hienas.
Por que hienas?
Um domingo de masturbação
Abra o vídeo que não tem título. Há uma intimidade ali. Parece um momento particular depois de uma trepada intensa.
Lençóis desarrumados sobre uma cama preguiçosa, a lixeira cheia de pacotes de “comida de domingo”, alguns videogames, algumas imagens geeks na internet, o teclado sujo, o chão do quarto com resquícios do suor dos corpos.
O cenário perfeito de um dia inteiro de foda, se não fosse apenas uma punheta na frente do computador.
Outras publicações
O livro de guilherme não é o primeiro do coletivo garupa. Nosso catálogo conta também com: fio, de xu xuyi; falsas impressões, de gabriel pelluso; [não sou bobo nem nada], de daniel dargains.
Para obter qualquer um desses títulos, envie um e-mail para vendas.garupa@gmail.com
Gabriel Pelluso